A
vida de Abraão constitui uma referência mundial e histórica de fé, determinação
e coragem. Sua fé em Deus, o Deus único e supremo foi desafiadora num mundo
impregnado de paganismo e idolatria. Ur dos Caldeus era a cidade de berço de Abraão.
Uma cidade próxima de Babilônia, que recebeu forte influência da adoração
babilônica e seus templos em forma de torre em espiral. Entre os diversos
deuses que os Caldeus cultuavam, o principal era o deus sin, deus da lua. Vidas humanas eram sacrificadas no altar de seus
templos, pois, segundo suas crenças, sem sangue não nascia o sol, não brilhava
a lua, nem as estrelas.
De
todos os habitantes daquela região, havia um que tinha algo especial que o
diferenciava da maioria. Abraão tinha uma semente dentro dele, uma semente de
vida. Em seu espírito algo o inquietava, o despertava. Ele sabia de suas
origens, que certamente não era hebreia ou judaica, pois a nação de Israel
ainda não havia sido formada. Mas suas raízes eram mais profundas, fazia parte
da semente dos semitas, ou seja, da descendência de Sem, filho de Noé. Segundo
a genealogia de Gênesis capítulo 11, Abraão fazia parte da geração de Sem. E
Sem havia recebido a palavra profética de Noé em que seria o cabeça dentre seus
filhos e geração. Sem seria o líder, o cabeça das nações. Abraão, sendo da
linhagem de Sem se tornou o patriarca da nação de Israel, sendo a mesma raiz do
Messias Yeshua (Jesus).
O que
fazia dele diferente da maioria? Qual a origem do chamado de Abraão? Como ele
saberia distinguir a voz de Deus em meio a tanta depravação e idolatria? Dentro
dele a semente do conhecimento de Deus clamava mais forte do que as crenças
caldéias e babilônicas. Ele não pertencia a geração da idolatria, mas da descendência
dos filhos de Deus, na fé e conhecimento no Deus único e verdadeiro. Fé essa
baseada no conhecimento de fontes orais de seus antepassados semitas, de que
Deus é o Senhor da terra e céus e tem uma aliança de vida, paz e bênçãos. Isso
explica em parte o porquê de Abraão ser o pai da nação de Israel e de todos os
que creem em Deus. Fé, confiança e promessa estão interligadas. Ele teve fé,
mas Deus tinha uma promessa.
Certamente
sua fé era baseada no conhecimento, mesmo que remoto das ações de Deus no princípio,
na vida de seus antepassados. Fé e conhecimento, razão e inteligência podem
perfeitamente estar interligadas. A fé não é algo irracional, desprovida de
ciência. Pelo contrário, é necessário ter conhecimento do objeto de crença
(Deus), ainda que não explicada pela razão ou pelos sentidos. A palavra
hebraica para fé é Emunah, que significa ter confiança. É algo mais profundo do
que simples crença. É confiança em quem a pessoa conhece, sente-se segura em
entregar-se. Abraão entregou sua vida, sua família, seu futuro e seus pertences
nas mãos de Deus, porque ele conheceu sua verdade, ainda que de forma
imperfeita.
O
conhecimento que Abraão teve de Deus, não somente veio de fontes orais, mas
também da voz de Deus que falava em seu interior e de aparições e revelações
diretas. Isso se deu progressivamente. À medida que o coração de Abraão se
enquietava com isso, mais ele buscava respostas. Isso durou boa parte da vida
de Abraão, até ele receber as promessas. Podemos confiar nas promessas de Deus,
e com a mesma confiança de Abraão ser agraciados com o cumprimento profético de
sua palavra encarnada em nós.
Quando
uma pessoa pertence a Deus, cedo ou tarde volta-se para as raízes de sua fé, de
sua identidade espiritual, que não é produzida artificialmente segundo as
tradições dos homens e rudimentos do mundo. Mas através do sopro divino da boca
de Deus, do ruach, como fôlego que dá
ânimo a alma e o leva a aproximar-se do divino de forma espiritual e genuína,
sem os artifícios produzidos pela religião.