quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O chamado - Introdução


A vida de Abraão constitui uma referência mundial e histórica de fé, determinação e coragem. Sua fé em Deus, o Deus único e supremo foi desafiadora num mundo impregnado de paganismo e idolatria. Ur dos Caldeus era a cidade de berço de Abraão. Uma cidade próxima de Babilônia, que recebeu forte influência da adoração babilônica e seus templos em forma de torre em espiral. Entre os diversos deuses que os Caldeus cultuavam, o principal era o deus sin, deus da lua. Vidas humanas eram sacrificadas no altar de seus templos, pois, segundo suas crenças, sem sangue não nascia o sol, não brilhava a lua, nem as estrelas.
De todos os habitantes daquela região, havia um que tinha algo especial que o diferenciava da maioria. Abraão tinha uma semente dentro dele, uma semente de vida. Em seu espírito algo o inquietava, o despertava. Ele sabia de suas origens, que certamente não era hebreia ou judaica, pois a nação de Israel ainda não havia sido formada. Mas suas raízes eram mais profundas, fazia parte da semente dos semitas, ou seja, da descendência de Sem, filho de Noé. Segundo a genealogia de Gênesis capítulo 11, Abraão fazia parte da geração de Sem. E Sem havia recebido a palavra profética de Noé em que seria o cabeça dentre seus filhos e geração. Sem seria o líder, o cabeça das nações. Abraão, sendo da linhagem de Sem se tornou o patriarca da nação de Israel, sendo a mesma raiz do Messias Yeshua (Jesus).
O que fazia dele diferente da maioria? Qual a origem do chamado de Abraão? Como ele saberia distinguir a voz de Deus em meio a tanta depravação e idolatria? Dentro dele a semente do conhecimento de Deus clamava mais forte do que as crenças caldéias e babilônicas. Ele não pertencia a geração da idolatria, mas da descendência dos filhos de Deus, na fé e conhecimento no Deus único e verdadeiro. Fé essa baseada no conhecimento de fontes orais de seus antepassados semitas, de que Deus é o Senhor da terra e céus e tem uma aliança de vida, paz e bênçãos. Isso explica em parte o porquê de Abraão ser o pai da nação de Israel e de todos os que creem em Deus. Fé, confiança e promessa estão interligadas. Ele teve fé, mas Deus tinha uma promessa.
Certamente sua fé era baseada no conhecimento, mesmo que remoto das ações de Deus no princípio, na vida de seus antepassados. Fé e conhecimento, razão e inteligência podem perfeitamente estar interligadas. A fé não é algo irracional, desprovida de ciência. Pelo contrário, é necessário ter conhecimento do objeto de crença (Deus), ainda que não explicada pela razão ou pelos sentidos. A palavra hebraica para fé é Emunah, que significa ter confiança. É algo mais profundo do que simples crença. É confiança em quem a pessoa conhece, sente-se segura em entregar-se. Abraão entregou sua vida, sua família, seu futuro e seus pertences nas mãos de Deus, porque ele conheceu sua verdade, ainda que de forma imperfeita.
O conhecimento que Abraão teve de Deus, não somente veio de fontes orais, mas também da voz de Deus que falava em seu interior e de aparições e revelações diretas. Isso se deu progressivamente. À medida que o coração de Abraão se enquietava com isso, mais ele buscava respostas. Isso durou boa parte da vida de Abraão, até ele receber as promessas. Podemos confiar nas promessas de Deus, e com a mesma confiança de Abraão ser agraciados com o cumprimento profético de sua palavra encarnada em nós.
Quando uma pessoa pertence a Deus, cedo ou tarde volta-se para as raízes de sua fé, de sua identidade espiritual, que não é produzida artificialmente segundo as tradições dos homens e rudimentos do mundo. Mas através do sopro divino da boca de Deus, do ruach, como fôlego que dá ânimo a alma e o leva a aproximar-se do divino de forma espiritual e genuína, sem os artifícios produzidos pela religião.